GUERRA FRIA
A Guerra Fria caracterizou-se pela tensão política
internacional, com disputas por áreas de influência capitalista (Estados
Unidos) e socialista (URSS). A União Soviética e os Estados Unidos viveram em
um estado de guerra não declarada, sendo os conflitos transferidos para o mundo
periférico. Os estadunidenses tiveram sob área de influência os países da
Europa ocidental, enquanto as áreas europeias libertadas pelo exército vermelho
— o leste europeu — foram colocadas sob tutela soviética.
Em fevereiro de 1947, Harry Truman, presidente dos Estados
Unidos, admitiu a necessidade de enviar auxílio político, financeiro e militar
aos países ameaçados pelo comunismo (Doutrina Truman). No mesmo ano, criou-se o
Plano Marshall, que destinou ajuda econômica aos países da Europa. Fortalecendo
economicamente os Aliados, a Casa Branca pretendia afastar o perigo comunista.
Internamente, os Estados Unidos viveram o macarthismo, uma política de
perseguição a possíveis comunistas estadunidenses liderada pelo senador Joseph McCarthy.
Em 1949, foi criada uma aliança militar de defesa do Ocidente
- a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados
Unidos. O objetivo era conter as fronteiras socialistas no continente europeu.
Grande parte dos países do leste europeu transformou-se em
"satélites" da URSS. Em 1949, para promover e ampliar o comércio
entre os Estados socialistas, a URSS criou o Conselho de Assistência Econômica Mútua
(Comecon). Em 1955, a URSS e seus aliados europeus criaram o Pacto de Varsóvia,
aliança militar capitaneada por Moscou e que incluía Alemanha Oriental, Polônia,
Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Albânia e Romênia.
Na Alemanha, encontrava-se o maior foco de tensão entre
Estados Unidos e URSS. Berlim ocidental (capitalista) foi beneficiada com a
entrada de recursos; Berlim oriental (socialista) mantinha a penúria típica do
pós-guerra imediato.
O território alemão sob influência soviética transformou-se
em República Democrática Alemã (ou Alemanha Oriental), socialista, com a
capital em Berlim oriental; os setores ocupados por Estados Unidos, Inglaterra
e França formaram a República Federal Alemã (ou Alemanha Ocidental),
capitalista, cuja capital passou a ser a cidade de Bonn.
Em 1961, para conter as fugas, o governo da Alemanha
Oriental construiu o muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria, com mais de 150 km
de extensão e três metros de altura. Entre outras consequências da Guerra Fria
tivemos a corrida armamentista entre as duas superpotências, que resultou em um
grande arsenal de armas nucleares, assim como a corrida espacial, que culminou
com a chegada do homem à Lua, em 1969 — feito realizado pelos Estados Unidos.
REVOLUÇÃO CHINESA
Na China, o Partido Nacionalista (kuomitang), de Chiang
Kai-chek, aproximou-se dos Estados Unidos, provocando uma guerra civil com os
comunistas liderados por Mao Tsé-tung.
Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil e fundaram a
República Popular da China. Chiang Kai-chek e seus seguidores fugiram para a
ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a República Nacionalista da China, sob proteção
dos Estados Unidos.
O governo socialista de Mao Tsé-tung coletivizou as terras,
estatizou a economia, eliminou os focos de oposição e controlou a imprensa. O
programa econômico denominado "grande salto para a frente"
(1958-1961) priorizou a agricultura e a indústria de base, mas apresentou
resultados modestos.
Na política externa, os comunistas chineses afastaram-se
dos soviéticos após a morte de Stalin, em 1953.
Em 1964, depois de enormes esforços na área bélica e científica,
o Partido Comunista Chinês anunciava ao mundo o domínio da construção da bomba
atômica. Em 1966, Mao Tsé-tung deu início à revolução cultural, que pretendia
eliminar focos de oposição dentro do próprio Partido Comunista Chinês e
promover uma renovação na direção do PCC, substituindo a velha burocracia por
novos quadros.
Manipulados pela direção do PCC, muitos jovens transformaram-se
em guardas vermelhos, membros de milícias que, pela violência, trabalharam para
reforçar a ditadura pessoal do líder da Revolução Chinesa.
GUERRA DA COREIA
Depois da Segunda Guerra Mundial formaram-se dois Estados
autônomos na Coreia: a República Popular Democrática da Coreia (ou Coreia do
Norte), aliada da URSS, e a República da Coreia (ou Coreia do Sul), protegida
pelos estadunidenses.
Incentivados pela vitória dos comunistas chineses em 1949,
os norte-coreanos declararam guerra à Coreia do Sul.
O Conselho de Segurança da ONU considerou a Coreia do Norte
agressora e autorizou a formação de uma força internacional, liderada pelos
estadunidenses. Iniciava-se a trágica Guerra da Coreia.
Os norte-coreanos contaram com a participação do governo
chinês. Em 1953, depois de três anos de combates, foi assinada a Paz de
Panmunjom, que confirmou o paralelo 38° N como limite entre as Coreias e uma
zona desmilitarizada ao longo da fronteira.
Os Estados Unidos iniciaram, então, a construção do muro da
Coreia, que ainda hoje divide os dois países.
DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
E DA ÁSIA
Entre os fatores que propiciaram a descolonização afro-asiática,
está o declínio do poderio europeu, o desenvolvimento econômico de grupos
empresariais nativos, a participação nas duas guerras, os movimentos de
libertação e o apoio dos Estados Unidos e da União Soviética, com o intuito de
atrair novos países para suas áreas de influência ideológica, as revoltas
geradas pela diferença entre as elevadas condições de vida dos colonizadores e
a miséria dos colonizados, e a Conferência de Bandung (1955), que reuniu representantes
de países independentes da Ásia e da África para defender a autodeterminação dos
povos, condenar a ação imperialista em todo o mundo e ajudar no processo de independência
das colônias.
CASOS AFRICANOS
No continente africano, a guerra de libertação das mais
sangrentas foi a da Argélia. A independência foi organizada pela Frente de
Libertação Nacional (FLN), grupo armado guerrilheiro que afirmava defender os
interesses do povo argelino contra os colonos franceses. O conflito com o exército
francês se estendeu de 1954 a 1962 e resultou na morte de um milhão de pessoas.
Nas colônias portuguesas, os movimentos separatistas
começaram nos anos 1950; no, entanto, as independências foram alcançadas na
década de 1970, após a Revolução dos Cravos em Portugal (1974), que pôs fim num
governo fascista que regia o país desde 1920 (o salazarismo).
CASOS ASIÁTICOS
INDOCHINA E GUERRA DO
VIETNÃ
Área de colonização francesa, a Indochina (Vietnã, Laos e
Camboja) foi ocupada pelos japoneses no início de 1940, durante a Segunda
Guerra Mundial.
Em 1941, os comunistas ligados a Ho Chi Minh organizaram o
Vietminh, grupo armado e preparado para lutar contra as ocupações francesa e
japonesa. Depois de conseguir expulsar os japoneses, o Vietminh, apoiado pelo
Partido Comunista e por outros grupos nacionalistas, ocupou a cidade de Hanói e
proclamou a República Democrática do Vietnã, no norte da península. A pretensão
francesa de recolonizar a região a partir do sul provocou a reação de todos os
vietnamitas, dando início à Guerra da Indochina, em 1946.
O conflito entre vietnamitas (apoiados pela China) e franceses
(apoiados pelos Estados Unidos) só terminou em 1954, com a França derrotada. Em
julho do mesmo ano foi realizada a Conferência de Genebra, que decidiu pelo
desmembramento do domínio colonial francês na Indochina e o reconhecimento da
independência do Vietnã, do Laos e do Camboja. Também ficou determinada uma
divisão temporária do Vietnã: ao norte, ficaria a República Democrática do
Vietnã, socialista e com capital em Hanói; ao sul, a República do Vietnã,
capitalista e com capital na cidade de Saigon.
A partir da divisão, o Vietnã torna-se palco da Guerra Fria,
desencadeando a Guerra do Vietnã, que durou de 1961 a 1975.
Em 1960, foi fundada a Frente de Libertação Nacional e, no ano
seguinte, o Exército de Libertação Nacional (Vietcongue). Os Estados Unidos
decidiram intervir diretamente no país, apoiando o governo do Vietnã do Sul
contra as forças do Vietnã do Norte e contra os guerrilheiros vietcongues.
Em 1973, foi assinado o Acordo de Paris. Que determinou a
retirada das tropas estadunidenses do Vietnã.
Em 1975, os líderes do governo do Vietnã do Sul renderam-se;
no ano seguinte, o Vietnã foi reunificado, com o nome de República Socialista
do Vietnã.
ÍNDIA
Na década de 1920, Mahatma Gandhi comandou a resistência ao
domínio britânico, assentado nos princípios da não violência e da desobediência
civil. Com o apoio de Nehru, Gandhi desencadeou uma campanha de divulgação e convenceu
a população a não pagar impostos e a não consumir produtos ingleses.
A Inglaterra tentou enfraquecer o movimento, fomentando
divergências entre hindus e muçulmanos. Em 15 de julho de 1947, o Parlamento
inglês votou a Lei de Independência, que dividiu a índia em um grande
território hindu — a índia — e dois territórios muçulmanos — o Paquistão
ocidental e o Paquistão oriental.
As crises entre os dois territórios paquistaneses levaram à
independência do Paquistão oriental, em 1971, após uma guerra civil que
terminou com a proclamação da República de Bangladesh. O Paquistão ocidental,
por sua vez, passou a chamar-se apenas Paquistão.
Ainda hoje, uma vasta região localizada a noroeste da índia
— a Caxemira, com uma população majoritariamente muçulmana — é reivindicada
pelo Paquistão.
AMÉRICA LATINA
O nascimento do operariado, o fortalecimento da classe média
urbana e a emergência de uma influente burguesia industrial marcaram a vida social
dos países latino-americanos nas décadas de 1930 e 1940.
Os reflexos políticos dessa nova ordem social foram a eclosão
de movimentos populares e o surgimento de partidos de esquerda (socialistas e
comunistas) em diversos países, destacando-se Chile, Argentina, Brasil e
Bolívia. Sob influência de militantes anarquistas, nasceram os sindicatos, que
logo passaram para o controle dos partidos de esquerda.
O operariado urbano, que reivindicava direitos trabalhistas,
e o campesinato, que lutava pelo acesso a terra, protagonizaram os principais
movimentos sociais da primeira metade do século XX.
As pressões dos grupos populares colocaram em risco o poder
das elites locais e forçou o aparecimento de um fenômeno político chamado
populismo.
O discurso nacionalista e moralizador dos Estados
populistas seduziam os trabalhadores, as camadas médias urbanas e as burguesias
nacionais, ansiosas por se integrarem a um projeto de modernização que passaria,
necessariamente, por uma rápida industrialização.
Os investimentos na indústria de base, a política de incentivos
(por meio da concessão de créditos e taxas de juros baixas), a oferta de
subsídios às matérias-primas produzidas pelas grandes estatais e a manutenção
da ordem social (por meio do controle dos sindicatos e da vida partidária)
fizeram do Estado populista o grande aliado das elites latino-americanas no processo
de modernização capitalista vivenciado no período.
Com os líderes carismáticos, o populismo integrou sob sua
ideologia reformista os diversos segmentos da sociedade.
Durante a vigência do Estado populista, a vida urbana suplantou
em vantagens econômicas e em possibilidades de sobrevivência a vida rural. A
burguesia industrial se impôs como segmento dominante, as camadas médias foram
integradas ao modo de vida capitalista, e os trabalhadores urbanos conquistaram
direitos ainda não conseguidos pelos camponeses.
Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingo Perón na Argentina e
Lázaro Cardenas no México são os melhores exemplos do populismo na América
Latina.
MÉXICO
Em 1910, houve um levante revolucionário que envolveu
camponeses, camadas médias urbanas e a burguesia industrial contra a ditadura
de Porfírio Diaz, instaurada por um golpe militar em 1876. Foi o início da
Revolução Mexicana.
A presença de lideranças camponesas — como Pancho Villa e
Emiliano Zapata — deu à revolução um caráter social camponês e alarmou as
classes urbanas conservadoras.
Com o apoio dos grupos revolucionários de Zapata e Villa, o
liberal constitucionalista Venustiano Carranza chegou ao poder; no entanto, a
aliança entre as forças logo foi rompida. Os dois líderes camponeses uniram-se
contra o governo de Carranza.
Em 1917, Carranza promulgou uma Constituição de conteúdo
nacionalista e trabalhista, que fortaleceu o seu governo diante de segmentos
urbanos, incluindo o operariado e a burguesia, que passaram a apoiá-lo na luta
contra as tropas camponesas de Zapata e Villa.
Entre 1934 e 1940, Lázaro Cardenas ocupou a Presidência da
República do México, tornando-se um dos expoentes do populismo
latino-americano. Durante seu governo, os projetos revolucionários de 1910
foram revigorados e dinamizados. Cardenas nacionalizou empresas de petróleo
estadunidenses e ferrovias inglesas, estruturou em moldes populistas os
sindicatos de trabalhadores e promoveu uma gigantesca expropriação de latifúndios
de proprietários mexicanos e estrangeiros para realizar a reforma agrária. Mais
de 15 milhões de hectares de terras foram distribuídos aos camponeses no
sistema de ejidos, propriedades de caráter coletivo, cuja utilização só era
permitida enquanto os camponeses estivessem integrados como membros de suas comunidades.
Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o latifúndio voltou a predominar
no mundo rural mexicano.
CUBA
Depois da independência (1898), Cuba foi colocada sob
influência dos Estados Unidos, através da Emenda Platt. Em 1934, Fulgêncio
Batista assumiu o poder e passou a governar segundo interesses do imperialismo
estadunidense.
Em 1952, por meio de um golpe de Estado, Fulgêncio Batista
instalou no país uma ditadura.
Em 1953, um grupo de rebeldes chefiados por Fidel Castro
Ruiz tentou tomar o poder por meio de um golpe contra Batista. A tentativa
resultou em fracasso, e Fidel Castro foi preso.
Libertado em 1955, Fidel exilou-se no México, onde se uniu
a outros exilados cubanos e organizou o retorno à ilha. No grupo de rebeldes,
constituído por menos de 90 homens, destacava-se o médico argentino Ernesto
Guevara de la Serna (conhecido por Che).
No fim de novembro de 1956, o grupo partiu do México com
destino a Cuba, onde iniciou a revolução para a tomada do poder.
Depois de dois anos de conflito, Fulgêncio Batista fugiu para
a República Dominicana; no dia seguinte, os revolucionários entraram em Havana.
Fidel Castro assumiu o controle do Estado e do Exército revolucionário,
nacionalizou empresas estrangeiras e promoveu a reforma agrária, depois de
expropriar terras da oligarquia cubana e de empresas estadunidenses.
Em janeiro de 1961, os Estados Unidos romperam relações
diplomáticas com Cuba; em abril, exilados cubanos treinados pela CIA tentaram
invadir Cuba e derrubar Fidel. A fracassada tentativa de invasão na baía dos
Porcos acelerou o rompimento definitivo do governo cubano com o mundo
capitalista. Em dezembro de 1961, Fidel anunciou a adesão de Cuba ao
socialismo, aproximando-se da União Soviética. Em 1962, a tentativa de
instalação de mísseis soviéticos em Cuba gerou um dos momentos mais tensos da Guerra
Fria, na chamada Crise dos Mísseis. A questão foi resolvida com o compromisso
soviético de não instalar armas em solo cubano, enquanto do lado dos Estados
Unidos o governo assumiu o compromisso de não mais tentar intervir militarmente
em Cuba.
CHILE
Nas eleições presidenciais chilenas de 1970, a vitória coube
a Salvador Allende, candidato da Unidade Popular, uma frente política
constituída por comunistas, socialistas e liberais. Allende realizou a reforma
agrária e nacionalizou as minas, o comércio exterior e os bancos.
Para defender seus interesses, os Estados Unidos organizaram
um boicote internacional ao cobre chileno, o que fez a economia do país
degringolar. Além disso, uma violenta campanha de desestabilização do governo —
liderada por agentes estadunidenses com recursos dos grandes consórcios
econômicos que atuavam no país e defendida pela burguesia nacional — procurou
colocar a sociedade chilena contra o governo da Unidade Popular. A classe média
posicionou-se contra Allende.
Em 11 de setembro de 1973, um golpe militar chefiado pelo
general Augusto Pinochet derrubou Allende, que foi morto no Palácio de La
Moneda. Elementos da oposição liberal ou socialista foram perseguidos, presos,
exilados ou assassinados pelo aparelho de repressão estruturado após o golpe.
O governo Pinochet, que se estenderia até 1990, desnacionalizou
bancos e empresas e abriu o país ao capital estrangeiro. Como nas demais
ditaduras do ciclo militar, o desenvolvimentismo trouxe problemas econômicos e
financeiros resultantes do endividamento, cujos reflexos sociais causaram
problemas que ainda estão por ser resolvidos.