quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Os primeiros tempos da República Velha até a era Vargas

AS QUESTÕES SOCIAIS
Entre os vários aspectos que caracterizaram o movimento operário do início do século, destacam-se as greves e os congressos operários.
0 Iº Congresso Operário Brasileiro realizou-se em abril de 1906, no Rio de Janeiro, onde ficou clara a predominância do anarco-sindicalismo como tendência do proletariado no Brasil. Contra a proposta dos delegados socialistas de formar um partido político, foi aprovada a tese anarco-sindical de criação da Confederação Operária Brasileira (COB).
0 II Congresso Operário foi convocado pela COB, em 1913, para se opor à lei que previa a expulsão do país de estrangeiros envolvidos em greves. Também traçou um plano de ação para lutar pela fixação de um salário mínimo e pela limitação da jornada de trabalho.
Em 1917, iniciaram-se greves em fábricas têxteis e cervejarias de São Paulo. A Força Pública reprimiu violentamente uma concentração de operários, sendo assassinado o sapateiro anarquista Antônio Martinez. Seu enterro foi o marco de violentas manifestações contra a polícia. A greve acabou se generalizando por toda a cidade.
A burguesia industrial paulista, ao perceber que a repressão não daria conta do conflito, procurou organizar uma comissão de jornalistas que serviria de mediadora entre operários e patrões.
Os empresários acabaram aceitando algumas das reivindicações dos operários: 20% de aumento salarial e a promessa de não dispensar os grevistas. 0 presidente do estado e o prefeito de São Paulo prometeram fiscalizar as condições de trabalho das mulheres e dos menores, o preço e a qualidade dos gêneros alimentícios e libertar os grevistas presos. Os grevistas aceitaram a proposta patronal, o que pôs fim à greve geral de 1917.

A formação do Partido Comunista
A criação do Partido Comunista, em fevereiro de 1922, foi o resultado da união de vários grupos políticos de esquerda espalhados pelo país. Tornou-se conhecido pela sua ação junto aos sindicatos e às lutas operárias, e, principalmente, através do seu jornal Movimento Operário. Contudo, o partido teve vida curta. Após quatro meses de sua fundação foi considerado ilegal pelo presidente Arthur Bernardes. Apesar dos poucos meses de legalidade do PC, a organização se tornou um referencial importante para a oposição anticapitalista, especialmente a partir dos anos 30.

A REAÇÃO REPUBLICANA
Em 1919, o gaúcho Borges de Medeiros, líder do Partido Republicano Rio-Grandense, apoiou o nordestino Epitácio Pessoa à presidência. Com isso, surgiu uma aliança entre o Rio Grande do Sul e o Nordeste, expressando o descontentamento das oligarquias regionais, interessadas em romper a hegemonia dos cafeicultores.
Epitácio Pessoa, vitorioso no mandato que se estenderia até 1922, desenvolveu um programa contrário à política do café-com-leite e investiu em obras contra a seca do Nordeste.
Além de descontentar os cafeicultores, entrou em atrito com a ascendente burguesia industrial, ao colocar entraves à entrada de produtos estrangeiros no Brasil, porque parte da indústria nacional precisava importar bens de produção.
Para o mandato seguinte, a oligarquia cafeeira,como forma de protesto às medidas de Epitácio Pessoa, apontou como candidato o mineiro Arthur Bernardes. Borges de Medeiros, tentando mais uma vez ir contra a política do café-com-leite, indicou Nilo Peçanha. Estrategicamente se uniu ao Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Tinha início a Reação Republicana, que tumultuou o ano de 1921.
A campanha de Nilo Peçanha representou uma contestação ao regime e contou com o apoio de parcelas da sociedade que estavam dispostas a romper com o situacionismo: setores urbanos, jovens tenentes e algumas dissidências burguesas.
Dessa Reação Republicana, se ergueu a voz dos tenentes, a juventude militar imbuída de propósitos radicais, contra a dominação oligárquica. Mas, naquele momento, pouco adiantou, pois Arthur Bernardes assumiu a presidência, em 15 de novembro de 1922, provando que triunfava o situacionismo.



O TENENTISMO
O Tenentismo foi um movimento político-militar que objetivava realizar mudanças na sociedade brasileira, diminuindo o poder das oligarquias e acabando com a corrupção eleitoral. Planejava o voto secreto e contou com a simpatia dos setores médios da sociedade e da classe operária.
Em 1921, durante a campanha política para substituir o presidente Epitácio Pessoa, a imprensa publicou cartas criticando a atuação dos militares, cuja autoria foi atribuída ao candidato Arthur Bernardes.Essas críticas levaram os jovens oficiais do Exército a apoiar abertamente Nilo Peçanha. Também combatiam o coronelismo e as eleições fraudulentas.
Mas foi exatamente o poder dos coronéis que garantiu a vitória de Arthur Bernardes (março de 1922).
Isso revoltou ainda mais os tenentes. Através da imprensa e de inflamados discursos no Clube Militar, o ex-presidente Marechal Hermes da Fonseca, criticou a atitude de Epitácio Pessoa, que aceitou o pleito de março e não questionou os resultados eleitorais.
A reação foi imediata: em 3 de julho Epitácio Pessoa ordenou o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca. Isso foi o estopim para que os tenentes se revoltassem. Marcaram para o dia 5 de julho o início de uma rebelião que deveria impedir a posse de Arthur Bernardes. Iniciava-se, assim, o Tenentismo.
Estão Ligadas ao movimento tenentista a Revolta do Forte de Copacabana ou Os Dezoito do Forte e a Revolução de 1924.

Revolta do Forte de Copacabana
Para impedir a posse de Arthur Bernardes, os militares planejaram que várias guarnições do exército deveriam marchar até o Palácio do Catete (sede dogoverno federal), no Rio de Janeiro, e depor Epitácio Pessoa.0 Marechal Hermes da Fonseca assumiria a presidência provisoriamente e seu primeiro ato seria declarar a vitória de Nilo Peçanha.
Na madrugada do dia 5 de junho de 1922, alguns oficiais tomaram o Forte de Copacabana. Em seguida, atacaram o quartel-general do Exército e outras unidades militares se rebelaram no Rio de Janeiro, Niterói e Mato Grosso.0 Congresso decretou estado de sítio.
Então, dezessete cadetes e o civil Octávio Correia saíram em marcha pelas praias de Copacabana até que foram impedidos de continuar pelas tropas do governo. Só dois sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Nada impediu a posse de Arthur Bernardes, que governou o Brasil de 1922 a 1926.

Revolução de 1924
A Revolução de 1924 ocorreu em São Paulo e foi liderada pelo general Isidoro Dias Lopes e pelos tenentes.
A partir de5 de julho, mais de mil homens ocuparam lugares estratégicos da cidade de São Paulo .0 objetivo era depor o presidente Arthur Bernardes. Entretanto, novamente os tenentes foram derrotados e passaram a formar a Coluna Paulista. Após abandonarem São Paulo, liderados pelos tenentes Siquera Campos e Juarez Távora, os paulistas partiram para o interior do estado.

A Coluna Prestes
Após a derrota do levante em Santo Ângelo, o tenente Luís Carlos Prestes e seus homens entraram no Paraná, onde, após encontrar-se com as tropas da Coluna Paulista, organizaram a Coluna Prestes. Ela foi dividida em três destacamentos, comandados respectivamente por Cordeiro de Farias, João Alberto e Siqueira Campos. Contudo, as decisões eram tomadas por Prestes, depois de ouvir o comando.
Reunidas as tropas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, Prestes propõe que atravessem a fronteira e percorram um pequeno trecho do território paraguaio para invadir o Mato Grosso. Com essa invasão, iniciou-se uma longa marcha militar.
0 general Rondon foi designado para combater a coluna. As forças legalistas conseguiram isolar o posto avançado rebelde, mas não o detiveram.
Em 1926, o comando revolucionário decidiu que a coluna deveria buscar refúgio nas fronteiras. Posteriormente, entraram em território baiano e mineiro, onde muitos morreram e outros foram presos. Dirigiram-se ao Piauí e de lá seguiram para Mato Grosso e Goiás. Em seguida, entraram em território boliviano, onde conseguiram asilo político. Acabavam, assim, os 647 dias de marcha da Coluna Prestes, ao total percorreu mais de 20 mil quilômetros.

O PODER DOS CAFEICULTORES EM CRISE
Os problemas que Arthur Bernardes teve de enfrentar com o movimento tenentista o levaram a governar em estado de sítio. Acompanhando a crise política, a cafeicultura sofria reveses. No período de 1922 a 1923, houve uma superprodução de café, o que obrigou o governo a emitir dinheiro para comprá-
la. A crise aconteceu porque, durante a Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos no conflito reduziram sensivelmente o consumo de café. Como resultado, houve uma queda do preço do produto.
A hegemonia da oligarquia cafeeira expressava-se através do Partido Republicano Paulista. Porém, a ascendente burguesia industrial paulista ingressou no partido, para defender seus interesses liberais.
Na antevéspera da sucessão presidencial, a burguesia industrial e financeira paulista lançou o manifesto do Partido Democrático. Defendia as seguintes ideias: reforma eleitoral com voto secreto, autonomia financeira com os mesmo privilégios da cafeicultura para a indústria e livre negociação na questão social.
Os industriais percebiam que o movimento social avançava perigosamente e que o Estado oligárquico mostrava-se incapaz de resolvê-lo, pois a repressão pura e simples era ineficaz.

Talvez bem mais importante do que seus épicos desempenhos em batalhas, tenha sido o fato de esses oficiais reformadores passarem a atuar politicamente fora das vias institucionais, recolocando na ordem do dia o "golpe militar" como um meio de transformar a sociedade, mudança, aliás, que em muito ajuda a compreender a eclosão da Revolução de 1930.


A fundação do Partido Democrático representou uma ruptura no bloco de poder dos paulistas. A antiga oligarquia dos cafeicultores continuava defendendo os seus interesses, enquanto o novo grupo pensava em uma mudança na organização do Estado.
Washington Luís, temendo a oposição das oligarquias regionais, procurou compor o seu governo contando com nomes locais, por exemplo, nomeou o gaúcho e político Getúlio Vargas para o seu ministério e, assim, garantia o apoio daquela importante bancada.
Mesmo enfrentando a divisão interna da bancada paulista, Washington Luís foi eleito presidente para o período de 1926 a 1930. 0 presidente, no intento de continuar a política de valorização do café, manteve a baixa cambial e isso propiciou a expansão da lavoura e da indústria. Porém, a classe operária saiu grandemente prejudicada.
A superprodução de 1928, que provocou baixa nos preços do café, e a crise mundial de 1929 (que levou ao desastre econômico a Bolsa de Valores de Nova York) foram a gota d'água para pôr fim ao modelo agrário-exportador e ao Estado oligárquico, sendo impossível a manutenção da política de valorização do café. A maioria dos cafeicultores e outros setores ligados à exportação tiveram inúmeros prejuízos, pois ocorreu:
» retração do mercado consumidor;
» suspensão da política de valorização com o fim da compra do excedente do café;
» exigência do pagamento das dívidas contraídas pelos cafeicultores.





A REVOLUÇÃO
Em 1930 ocorreu uma revolução que ocasionou a queda da República Velha, já bastante enfraquecida. A campanha eleitoral para a sucessão do presidente Washington Luís provocou a cisão da oligarquia dominante e foi o estopim dessa revolução.
Era a vez de Minas Gerais indicar o candidato, mas Washington Luís, ligado à oligarquia de São Paulo, indicou o paulista Júlio Prestes, que garantiria a continuidade da política de valorização do café.
Os mineiros, que esperavam a indicação de Antônio Carlos, presidente de Minas Gerais, romperam sua aliança com São Paulo e, juntamente com o Rio Grande do Sul e a Paraíba, criaram um novo partido, a Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda e presidente do Rio Grande do Sul. 0 candidato a vice-presidente era o paraibano João Pessoa.
A Aliança Liberal, em sua campanha política, concentrou suas forças nos grandes centros urbanos, buscando, assim, a adesão da burguesia industrial e do operariado. Aos operários prometia satisfazer suas reivindicações, tais como: férias remuneradas, regulamentação do trabalho da mulher e da criança e ampliação do direito de aposentadoria. Além disso, suas propostas de anistia aos presos políticos e de instituição do voto secreto trouxeram-lhe o apoio dos líderes tenentistas.
Realizadas as eleições, em março de 1930, Júlio Prestes foi declarado vencedor, mas a ala mais radical da oposição, alegando fraude eleitoral, iniciou a organização de um movimento para derrubar Washington Luis. Em julho do mesmo ano, o assassinato de João Pessoa, no Recife, por um adversário político, contribuiu para dar mais força à oposição.
Tropas do Rio Grande do Sul marcharam em direção ao Rio de Janeiro. No Nordeste, a rebelião teve à frente Juarez Távora.0 presidente Washington Luís esboçou resistência, mas foi deposto (24 de outubro). Inicialmente, o governo foi exercido por uma junta militar (Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha). No dia 3 de novembro, Getúlio Vargas assumiu o poder. Tinha início a Era Vargas.
No decorrer dos quinze anos em que governou o Brasil, Getúlio foi chefe do Governo Provisório (1930-1934); presidente constitucional, eleito por via indireta (1934-1937), e ditador de uma ordem autoritária conhecida como Estado Novo (1937-1945).

O GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)
Logo que assumiu o poder, Getúlio Vargas:
» dissolveu o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais;
» nomeou interventores para os estados, com amplos poderes;
» criou dois novos ministérios, o do Trabalho,
Indústria e Comércio e o da Educação e Saúde;
» controlou os meios de comunicação e os sindicatos, que, para funcionar, precisavam da autorização do Ministério do Trabalho.

No seu governo foram aprovadas algumas leis trabalhistas:
» regulamentação do trabalho feminino e infantil;
» descanso semanal remunerado;
» férias remuneradas;
» jornada de trabalho de oito horas diárias.

A Revolução Constitucionalista de 1932
Com a Revolução de 1930, São Paulo perdeu sua hegemonia na política nacional e até mesmo o governo do estado passou para o controle de Getúlio. Em 1932, tentando retomar o poder, os paulistas desencadearam um movimento revolucionário. São Paulo enfrentava também, além da crise do café, a falência de várias indústrias, desemprego e greves operárias, que exigiam a aplicação das leis trabalhistas.
Quando Getúlio nomeou como interventor de São Paulo o militar pernambucano João Alberto Lins de Barros, os ânimos se acirraram. Os Partidos Democrático e Republicano Paulista se uniram, formando a Frente Única, que exigia a autonomia política para São Paulo e a reconstitucionalização do país, com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, já que a Revolução havia declarado extinta a Constituição de 1891. A Frente Única recebeu adesão de militares e industriais.
Devido à pressão que sofreu, Vargas nomeou um novo interventor para São Paulo, agora civil e paulista, Pedro de Toledo, e marcou o dia para a eleição dos membros da Assembleia Constituinte.
Apesar dessas concessões, a oligarquia paulista continuou reagindo, pois queria controlar o poder e fazer uma política efetivamente favorável ao café. Os conflitos ganharam as ruas não só da capital do estado como de muitas cidades do interior. Em uma das manifestações contra o governo, foram mortos na cidade de São Paulo os estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o que deu origem à sigla MMDC, que foi usada para denominar um grupo radical contra Getúlio.
Em 9 de julho eclodiu a Revolução Constitucionalista. As forças paulistas foram comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes. Depois de cerca de três meses de revolução, os paulistas foram derrotados pelas tropas federais.

A Constituição de 1934
Em maio de 1933, foi eleita a Assembleia Constituinte e, em 1934, foi promulgada uma nova Constituição, que tinha como características principais: garantia da autonomia dos estados, mandato presidencial de quatro anos, sendo o primeiro eleito por via indireta, voto universal secreto, direito de voto à mulher, instituição do salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, descanso semanal e férias remuneradas, proibição do trabalho de menores de 14 anos de idade, indenização por dispensas sem justa causa, e deputados classistas. A Assembleia Constituinte também elegeu o presidente da República e Getúlio foi confirmado no cargo, agora como presidente constitucional.




        O GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)
Esse período foi marcado pelo surgimento de duas correntes político-ideológicas antagônicas, as quais refletiam o conflito europeu de fascistas e socialistas:
» Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, que tinha como líder Plínio Salgado. Contou com o apoio dos setores conservadores da sociedade, cujos objetivos eram: combate ao socialismo e defesa da Tradição e da Família.
» Aliança Nacional Libertadora, que agregava os elementos de esquerda, com orientação marxista, liderada por Luís Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista e, como frente antifascista, contava com o apoio dos liberais.

A Intentona Comunista
0 programa da Aliança Nacional Libertadora (ANL) era: a luta por melhores salários, pela reforma agrária, anti-imperialismo e democracia política.
Luís Carlos Prestes foi eleito presidente de honra da ANL e os comícios arrastavam milhares de pessoas às ruas. Isso fez com que Prestes, o Partido Comunista e a Terceira Internacional (reunião dos partidos comunistas de todo o mundo) acreditassem na possibilidade de derrubar Getúlio por meio de uma revolução.
Em 7 de julho de 1935, Prestes - ainda no exterior- divulgou um manifesto defendendo a luta armada. Era o motivo que Vargas desejava para colocar a ANL na ilegalidade. Esse fato, que foi usado como pretexto para fazer a revolução conhecida como Revolução Vermelha, seria um golpe militar com o apoio da população.
A revolução estava planejada para fevereiro ou março de 1936, mas a tomada do quartel-general da Polícia Militar em Natal, Rio Grande do Norte, em 23 de novembro de 1935, precipitou-a. Porém, o governo revolucionário durou apenas quatro dias. Houve a tentativa de estender o movimento ao Recife, também fracassada.
Luís Carlos Prestes começou a organizar o levante do Rio de Janeiro, acreditando contar com o apoio da Marinha para depor Getúlio.
0 movimento nos quartéis do Rio de Janeiro não conseguiu ganhar as ruas, sendo reprimido sem muita dificuldade pelo governo. Na tarde de 27 de novembro, todos os revolucionários se entregaram.
Derrotada a rebelião, o governo de Vargas deu início a uma feroz repressão política. Prestes e seus assessores estrangeiros foram presos e torturados. Prestes foi condenado a 16 anos de prisão.
Usando a insurreição comunista como justificativa,Getúlio suspendeu a Constituição de 1934, a mais liberal que o Brasil já tivera. A propaganda de Vargas criou vários casos falsos de "ameaças comunistas", de modo a convencer a população de que um governo forte era indispensável. Em 1937, às vésperas das eleições presidenciais, sob o pretexto de proteger o Brasil das ameaças totalitárias, Vargas deu um golpe de Estado, tornando-se ditador.

ESTADO NOVO:
DITADURA E TRABALHISMO
Com o golpe de 1937, que instalou o Estado Novo,consagrou-se a proposta ditatorial e eliminaram-se politicamente os defensores do liberalismo, que foram submetidos à Lei de Segurança Nacional.
Foi outorgada a Constituição de 1937, que legalizava a ditadura e a centralização do poder nas mãos de Vargas.
As bases da estabilidade do Estado Novo foram as seguintes:
» a conjuntura internacional, marcada pela Guerra Mundial e pela ascensão do fascismo, favorecia a expansão industrial, principalmente a indústria de base, e a retomada do crescimento das exportações nacionais, o que não impediu o Brasil de continuar exportando produtos primários, essa situação levou a maioria da classe dominante a apoiar a ditadura;
» o consentimento de setores da burguesia industrial e agroexportadora e de boa parte das oligarquias latifundiárias, que se beneficiavam com a política governamental;
» o apoio da classe média urbana que, por ser conservadora, ficava tranquila ante a repressão aos comunistas e era beneficiada com a ampliação dos empregos;
» o apoio do alto comando do exército, que participava das decisões governamentais nos conselhos técnicos;
» concentração de renda e fundiária;
» a desorganização das camadas populares em decorrência da repressão policial e do controle estatal dos sindicatos de trabalhadores. Ao mesmo tempo, as leis trabalhistas eram implantadas. Essas leis "ganharam" os trabalhadores urbanos;
» o controle da propaganda nacional por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).





O governo Vargas tinha motivos para intervir nos assuntos ligados ao trabalho: conter o avanço do movimento dos trabalhadores e, paralelamente, criar mercado para alguns setores da indústria nacional. Por isso, passou a cuidar da questão social. Criou uma legislação trabalhista e previdenciária que, embora tenha provocado reação dos empresários, não prejudicou os seus interesses.
Uma nova Constituição foi outorgada em 1937. Era extremamente centralizadora e prorrogava o mandato presidencial até ser feito um plebiscito que, na realidade, nunca se realizou.
No Estado Novo houve a extinção dos partidos políticos, a censura da imprensa, a dissolução do Congresso e a nomeação de interventores estaduais. No plano econômico, esse período foi marcado pela criação da Companhia Siderúrgica Nacional e pelo início das pesquisas de petróleo, em Lobato, na Bahia.








A REDEMOCRATIZAÇÃO
A partir de 1942, os rumos da Segunda Guerra Mundial começaram a mudar, abalando um dos alicerces do Estado Novo e favorecendo a luta interna pela democratização. A entrada do Brasil na Guerra criou uma situação contraditória; o Brasil lutava no exterior contra o fascismo, enquanto se mantinha, internamente, num regime ditatorial inspirado por esse mesmo fascismo.
As relações do governo com as Forças Armadas começaram a se deteriorar. As pressões externas também contribuíram para o fim da ditadura. 0 governo dos Estados Unidos não via com bons olhos as tendências nacionalistas de Vargas, que obstavam parcialmente a entrada de capitais norte-americanos no Brasil.
Diante das pressões internas e externas, cada vez maiores, o governo de Vargas prometeu eleições gerais, diminuiu a censura da imprensa e permitiu a volta dos partidos políticos.
Os principais partidos que surgiram na época foram:
» PSD (Partido Social Democrático), criado por Vargas, tinha sua base eleitoral na força dos interventores estaduais, nos industriais, nos banqueiros e na aristocracia rural.
» UDN (União Democrática Nacional), que congregava os opositores do regime getulista. Era também anticomunista e tinha como base eleitoral setores da classe média, empresários e certas camadas dos militares. Júlio Mesquita Filho, Assis Chateaubriand, Armando de Salles Oliveira e o Brigadeiro Eduardo Gomes eram os nomes mais representativos desse partido.
» PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), era liderado pela burocracia sindical, criada pelo regime do Estado Novo. Idealizado por Getúlio, tinha a finalidade de servir de anteparo entre os trabalhadores e o Partido Comunista.
Em 1945, Getúlio decretou o Ato Adicional, marcando o prazo das eleições gerais. Em março, pressionado por grupos de militares até então comprometidos com a ditadura, lançou como candidato à sua sucessão o ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra. Em abril, Vargas concedeu anistia a todos os presos e exilados políticos. No mês seguinte, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) voltou à legalidade.
Vargas prometia eleições, porém, não se acreditava que elas fossem realizadas. As Forças Armadas, lideradas pelos generais Gois Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, em 1945, depuseram o ditador, assumindo o governo José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal.
Para as primeiras eleições, após a época ditatorial, os partidos apresentaram os seguintes candidatos: General Eurico Gaspar Dutra, apoiado pela coligação PSD-PTB; Brigadeiro Eduardo Gomes, lançado pela UDN; Yedo Fiúza, candidato do PCB. Foi eleito o General Eurico Gaspar Dutra.
Apesar da redemocratização, mantinha-se ainda a clientela dependente dos favores (verbas, empregos, nomeações) dos "caciques" políticos estaduais e do governo federal. Esses favores eram retribuídos com a votação em massa nos candidatos governistas. Havia outras razões para o predomínio do PSD. Além do apoio financeiro dos comerciantes, industriais e proprietários de terras, o programa do partido era amplo e genérico, o que facilitava a conciliação dos diferentes grupos oligárquicos e burgueses.
Prejudicada pelas manobras getulistas, a UDN perdeu as eleições. A principal razão foi o fato de o partido estar dominado, desde a sua fundação, pelas oligarquias liberais conservadoras. Apoiado basicamente por setores da classe média conservadora e da classe dominante, a UDN tornou-se o "partido dos ricos", defensor de posições conservadoras, como a manutenção da economia agrária.
0 PTB era a terceira força partidária e teve maior penetração popular devido a uma mudança na composição social da classe trabalhadora, a partir dos anos 30 do século XX. Houve a substituição dos trabalhadores estrangeiros por migrantes do Norte e Nordeste, mais carentes do ponto de vista material e menos organizados e conscientes em termos políticos e ideológicos. Portanto, tornaram-se mais facilmente impressionáveis com a política social de Vargas.