AS
QUESTÕES SOCIAIS
Entre os vários aspectos que
caracterizaram o movimento operário do início do século, destacam-se as greves
e os congressos operários.
0 Iº Congresso Operário Brasileiro
realizou-se em abril de 1906, no Rio de Janeiro, onde ficou clara a predominância
do anarco-sindicalismo como tendência do proletariado no Brasil. Contra a
proposta dos delegados socialistas de formar um partido político, foi aprovada
a tese anarco-sindical de criação da Confederação Operária Brasileira (COB).
0 II Congresso Operário foi convocado
pela COB, em 1913, para se opor à lei que previa a expulsão do país de
estrangeiros envolvidos em greves. Também traçou um plano de ação para lutar
pela fixação de um salário mínimo e pela limitação da jornada de trabalho.
Em 1917, iniciaram-se greves em fábricas
têxteis e cervejarias de São Paulo. A Força Pública reprimiu violentamente uma
concentração de operários, sendo assassinado o sapateiro anarquista Antônio Martinez. Seu enterro foi o marco de violentas
manifestações contra a polícia. A greve acabou se generalizando por toda a
cidade.
A burguesia industrial paulista, ao
perceber que a repressão não daria conta do conflito, procurou organizar uma
comissão de jornalistas que serviria de mediadora entre operários e patrões.
Os empresários acabaram aceitando
algumas das reivindicações dos operários: 20% de aumento salarial e a promessa
de não dispensar os grevistas. 0 presidente do estado e o prefeito de São Paulo
prometeram fiscalizar as condições de trabalho das mulheres e dos menores, o
preço e a qualidade dos gêneros alimentícios e libertar os grevistas presos. Os
grevistas aceitaram a proposta patronal, o que pôs fim à greve geral de 1917.
A
formação do Partido Comunista
A criação do Partido Comunista, em
fevereiro de 1922, foi o resultado da união de vários grupos políticos de
esquerda espalhados pelo país. Tornou-se conhecido pela sua ação junto aos
sindicatos e às lutas operárias, e, principalmente, através do seu jornal
Movimento Operário. Contudo, o partido teve vida curta. Após quatro meses de
sua fundação foi considerado ilegal pelo presidente Arthur Bernardes.
Apesar dos poucos meses de legalidade do PC, a organização se tornou um
referencial importante para a oposição anticapitalista, especialmente a partir
dos anos 30.
A
REAÇÃO REPUBLICANA
Em 1919, o gaúcho Borges de Medeiros,
líder do Partido Republicano Rio-Grandense, apoiou o nordestino Epitácio Pessoa à presidência. Com isso, surgiu uma aliança
entre o Rio Grande do Sul e o Nordeste, expressando o descontentamento das
oligarquias regionais, interessadas em romper a hegemonia dos cafeicultores.
Epitácio Pessoa, vitorioso no mandato que se estenderia até
1922, desenvolveu um programa contrário à política do café-com-leite e investiu
em obras contra a seca do Nordeste.
Além de descontentar os cafeicultores, entrou em atrito com a ascendente
burguesia industrial, ao colocar entraves à entrada de produtos estrangeiros no
Brasil, porque parte da indústria nacional precisava importar bens de produção.
Para o mandato seguinte, a oligarquia cafeeira,como forma de protesto às medidas de Epitácio Pessoa, apontou como candidato o mineiro Arthur Bernardes. Borges de Medeiros, tentando mais uma
vez ir contra a política do café-com-leite, indicou Nilo Peçanha. Estrategicamente
se uniu ao Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Tinha início a Reação
Republicana, que tumultuou o ano de 1921.
A campanha de Nilo Peçanha representou
uma contestação ao regime e contou com o apoio de parcelas da sociedade que estavam
dispostas a romper com o situacionismo: setores
urbanos, jovens tenentes e algumas dissidências burguesas.
Dessa Reação Republicana, se ergueu a
voz dos tenentes, a juventude militar imbuída de propósitos radicais, contra a
dominação oligárquica. Mas, naquele momento, pouco adiantou,
pois Arthur Bernardes assumiu a presidência, em 15 de novembro
de 1922, provando que triunfava o situacionismo.
O
TENENTISMO
O Tenentismo foi um movimento
político-militar que objetivava realizar mudanças na sociedade brasileira, diminuindo o poder das oligarquias e acabando
com a corrupção eleitoral. Planejava o voto secreto e contou com a simpatia dos
setores médios da sociedade e da classe operária.
Em 1921, durante a campanha política
para substituir o presidente Epitácio Pessoa, a
imprensa publicou cartas criticando a atuação dos militares, cuja autoria foi
atribuída ao candidato Arthur Bernardes.Essas críticas
levaram os jovens oficiais do Exército a apoiar abertamente Nilo Peçanha.
Também combatiam o coronelismo e as eleições fraudulentas.
Mas foi exatamente o poder dos coronéis
que garantiu a vitória de Arthur Bernardes (março de
1922).
Isso revoltou ainda mais os tenentes.
Através da imprensa e de inflamados discursos no Clube Militar, o ex-presidente
Marechal Hermes da Fonseca, criticou a atitude de Epitácio Pessoa,
que aceitou o pleito de março e não questionou os resultados eleitorais.
A reação foi imediata: em 3 de julho Epitácio Pessoa ordenou o fechamento do Clube Militar e a
prisão de Hermes da Fonseca. Isso foi o estopim para que os tenentes se revoltassem.
Marcaram para o dia 5 de julho o início de uma rebelião que deveria impedir a posse
de Arthur Bernardes. Iniciava-se, assim, o Tenentismo.
Estão Ligadas ao movimento tenentista a
Revolta do Forte de Copacabana ou Os Dezoito do Forte e a Revolução de 1924.
Revolta
do Forte de Copacabana
Para impedir a posse de Arthur Bernardes, os militares planejaram que
várias guarnições do exército deveriam marchar até o Palácio do Catete (sede dogoverno
federal), no Rio de Janeiro, e depor Epitácio Pessoa.0 Marechal Hermes da Fonseca
assumiria a presidência provisoriamente e seu primeiro ato seria declarar a
vitória de Nilo Peçanha.
Na madrugada do dia 5 de junho de 1922, alguns oficiais tomaram o Forte de Copacabana. Em seguida, atacaram o quartel-general do
Exército e outras unidades militares se rebelaram no Rio de Janeiro, Niterói e
Mato Grosso.0 Congresso decretou estado de sítio.
Então, dezessete cadetes e o civil Octávio Correia saíram em marcha pelas praias de
Copacabana até que foram impedidos de continuar pelas tropas do governo. Só
dois sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Nada impediu a posse de Arthur Bernardes, que governou o Brasil de 1922 a 1926.
Revolução
de 1924
A Revolução de 1924 ocorreu em São Paulo e foi liderada pelo general Isidoro Dias Lopes e
pelos tenentes.
A partir de5 de julho, mais de mil homens ocuparam lugares estratégicos da cidade de
São Paulo .0 objetivo era depor o presidente Arthur Bernardes. Entretanto, novamente os tenentes
foram derrotados e passaram a formar a Coluna Paulista. Após abandonarem São Paulo,
liderados pelos tenentes Siquera Campos e Juarez Távora, os paulistas partiram
para o interior do estado.
A
Coluna Prestes
Após a derrota do levante em Santo
Ângelo, o tenente Luís Carlos Prestes e seus homens entraram no Paraná, onde,
após encontrar-se com as tropas da Coluna Paulista, organizaram a Coluna
Prestes. Ela foi dividida em três destacamentos, comandados respectivamente por
Cordeiro de Farias, João Alberto e Siqueira Campos. Contudo, as decisões eram
tomadas por Prestes, depois de ouvir o comando.
Reunidas as tropas do Rio Grande do Sul
e de São Paulo, Prestes propõe que atravessem a fronteira e percorram um
pequeno trecho do território paraguaio para invadir o Mato Grosso. Com essa
invasão, iniciou-se uma longa marcha militar.
0 general Rondon
foi designado para combater a coluna. As forças legalistas conseguiram isolar o
posto avançado rebelde, mas não o detiveram.
Em 1926, o comando revolucionário
decidiu que a coluna deveria buscar refúgio nas fronteiras. Posteriormente, entraram
em território baiano e mineiro, onde muitos morreram e outros foram presos.
Dirigiram-se ao Piauí e de lá seguiram para Mato Grosso e Goiás. Em seguida,
entraram em território boliviano, onde conseguiram asilo político. Acabavam,
assim, os 647 dias de marcha da Coluna Prestes, ao total percorreu mais de 20
mil quilômetros.
O PODER
DOS CAFEICULTORES EM CRISE
Os problemas que Arthur Bernardes
teve de enfrentar com o movimento tenentista o levaram a governar em estado de
sítio. Acompanhando a crise política, a
cafeicultura
sofria reveses. No período de 1922 a 1923, houve uma superprodução de café, o
que obrigou o governo a emitir dinheiro para comprá-
la. A crise aconteceu porque, durante a Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos no conflito reduziram sensivelmente o consumo de café. Como resultado, houve uma queda do preço do produto.
la. A crise aconteceu porque, durante a Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos no conflito reduziram sensivelmente o consumo de café. Como resultado, houve uma queda do preço do produto.
A hegemonia da oligarquia cafeeira expressava-se através do Partido Republicano
Paulista. Porém, a ascendente burguesia industrial paulista ingressou no partido,
para defender seus interesses liberais.
Na antevéspera da sucessão
presidencial, a burguesia industrial e financeira paulista lançou o manifesto
do Partido Democrático. Defendia as seguintes ideias: reforma eleitoral com
voto secreto, autonomia financeira com os mesmo privilégios da cafeicultura para a indústria e livre negociação na
questão social.
Os industriais percebiam que o movimento
social avançava perigosamente e que o Estado oligárquico mostrava-se incapaz de
resolvê-lo, pois a repressão pura e simples era ineficaz.
Talvez bem mais importante do que seus épicos desempenhos em batalhas,
tenha sido o fato de esses oficiais reformadores passarem a atuar politicamente fora das vias
institucionais, recolocando na ordem do dia o "golpe militar" como um
meio de transformar a sociedade, mudança, aliás, que em muito ajuda a
compreender a eclosão da Revolução de 1930.
A fundação do Partido Democrático
representou uma ruptura no bloco de poder dos paulistas. A antiga oligarquia
dos cafeicultores continuava defendendo os seus interesses,
enquanto o novo grupo pensava em uma mudança na organização do Estado.
Washington Luís, temendo a oposição das
oligarquias regionais, procurou compor o seu governo contando com nomes locais,
por exemplo, nomeou o gaúcho e político Getúlio Vargas para o
seu ministério e, assim, garantia o apoio daquela importante bancada.
Mesmo enfrentando a divisão interna da
bancada paulista, Washington Luís foi eleito presidente para o período de 1926
a 1930. 0 presidente, no intento de continuar a política de valorização do
café, manteve a baixa cambial e isso propiciou a expansão da lavoura e da
indústria. Porém, a classe operária saiu grandemente prejudicada.
A superprodução de 1928, que provocou
baixa nos preços do café, e a crise mundial de 1929 (que levou ao desastre econômico
a Bolsa de Valores de Nova York) foram a gota d'água para pôr fim ao modelo
agrário-exportador e ao Estado oligárquico, sendo impossível a manutenção da
política de valorização do café. A maioria dos cafeicultores
e outros setores ligados à exportação tiveram inúmeros prejuízos, pois ocorreu:
» retração do mercado consumidor;
» suspensão da política de valorização
com o fim da compra do excedente do café;
» exigência do pagamento das dívidas
contraídas pelos cafeicultores.
A
REVOLUÇÃO
Em 1930 ocorreu uma revolução que
ocasionou a queda da República Velha, já bastante enfraquecida. A campanha
eleitoral para a sucessão do presidente Washington Luís provocou a cisão da
oligarquia dominante e foi o estopim dessa revolução.
Era a vez de Minas Gerais indicar o
candidato, mas Washington Luís, ligado à oligarquia de São Paulo, indicou o
paulista Júlio Prestes, que garantiria a continuidade da política de
valorização do café.
Os mineiros, que esperavam a indicação
de Antônio Carlos, presidente de Minas Gerais, romperam sua aliança com São
Paulo e, juntamente com o Rio Grande do Sul e a Paraíba, criaram um novo
partido, a Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas,
ex-ministro da Fazenda e presidente do Rio Grande do Sul. 0 candidato a
vice-presidente era o paraibano João Pessoa.
A Aliança Liberal, em sua campanha
política, concentrou suas forças nos grandes centros urbanos, buscando, assim,
a adesão da burguesia industrial e do operariado. Aos operários prometia
satisfazer suas reivindicações, tais como: férias remuneradas, regulamentação
do trabalho da mulher e da criança e ampliação do direito de aposentadoria.
Além disso, suas propostas de anistia aos presos políticos e de instituição do
voto secreto trouxeram-lhe o apoio dos líderes tenentistas.
Realizadas as eleições, em março de 1930, Júlio Prestes foi declarado
vencedor, mas a ala mais radical da oposição, alegando fraude eleitoral,
iniciou a organização de um movimento para derrubar Washington Luis. Em julho
do mesmo ano, o assassinato de João Pessoa, no Recife, por um adversário político,
contribuiu para dar mais força à oposição.
Tropas do Rio Grande do Sul marcharam em direção ao Rio de Janeiro. No
Nordeste, a rebelião teve à frente Juarez Távora.0 presidente Washington Luís esboçou
resistência, mas foi deposto (24 de outubro). Inicialmente, o governo foi exercido
por uma junta militar (Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha). No dia 3 de novembro, Getúlio Vargas assumiu
o poder. Tinha início a Era Vargas.
No decorrer dos quinze anos em que governou o Brasil, Getúlio foi chefe do
Governo Provisório (1930-1934); presidente constitucional, eleito por via indireta (1934-1937), e ditador de uma
ordem autoritária conhecida como Estado Novo (1937-1945).
O GOVERNO
PROVISÓRIO (1930-1934)
Logo que assumiu o poder, Getúlio Vargas:
» dissolveu o Congresso Nacional, as
Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais;
» nomeou interventores para os estados,
com amplos poderes;
» criou dois novos ministérios, o do
Trabalho,
Indústria e Comércio e o da Educação e Saúde;
Indústria e Comércio e o da Educação e Saúde;
» controlou os meios de comunicação e os
sindicatos, que, para funcionar, precisavam da autorização do Ministério do
Trabalho.
No seu governo foram aprovadas algumas
leis trabalhistas:
» regulamentação do trabalho feminino e
infantil;
» descanso semanal remunerado;
» férias remuneradas;
» jornada de trabalho de oito horas
diárias.
A
Revolução Constitucionalista de 1932
Com a Revolução de 1930, São Paulo
perdeu sua hegemonia na política nacional e até mesmo o governo do estado
passou para o controle de Getúlio. Em 1932, tentando
retomar o poder, os paulistas desencadearam um movimento revolucionário. São
Paulo enfrentava também, além da crise do café, a falência de várias indústrias,
desemprego e greves operárias, que exigiam a aplicação das leis trabalhistas.
Quando Getúlio
nomeou como interventor de São Paulo o militar pernambucano João Alberto Lins
de Barros, os ânimos se acirraram. Os Partidos Democrático e Republicano
Paulista se uniram, formando a Frente Única, que exigia a autonomia política
para São Paulo e a reconstitucionalização do país, com a convocação de uma
Assembleia Nacional Constituinte, já que a Revolução havia declarado extinta a Constituição
de 1891. A Frente Única recebeu adesão de militares e industriais.
Devido à pressão que sofreu, Vargas
nomeou um novo interventor para São Paulo, agora civil e paulista, Pedro de
Toledo, e marcou o dia para a eleição dos membros da Assembleia Constituinte.
Apesar dessas concessões, a oligarquia paulista continuou reagindo, pois
queria controlar o poder e fazer uma política
efetivamente favorável ao café. Os conflitos
ganharam as ruas não só da capital do estado como de muitas cidades do
interior. Em uma das manifestações contra o governo, foram mortos na cidade de
São Paulo os estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o que deu origem
à sigla MMDC, que foi usada para denominar um grupo radical contra Getúlio.
Em 9 de julho eclodiu a Revolução Constitucionalista. As forças paulistas foram
comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes. Depois de cerca de três meses de
revolução, os paulistas foram derrotados pelas tropas federais.
A
Constituição de 1934
Em maio de 1933, foi eleita a Assembleia Constituinte e, em 1934, foi promulgada uma nova Constituição, que tinha como características
principais: garantia da autonomia dos estados, mandato presidencial de quatro
anos, sendo o primeiro eleito por via indireta, voto universal secreto, direito
de voto à mulher, instituição do salário mínimo, jornada de oito horas de
trabalho, descanso semanal e férias remuneradas, proibição do trabalho de
menores de 14 anos de idade, indenização por dispensas sem justa causa, e deputados classistas. A Assembleia Constituinte também elegeu o
presidente da República e Getúlio foi confirmado no cargo, agora como
presidente constitucional.
O
GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937)
Esse período foi marcado pelo surgimento
de duas correntes político-ideológicas antagônicas, as quais refletiam o
conflito europeu de fascistas e socialistas:
» Ação Integralista Brasileira, de
inspiração fascista, que tinha como líder Plínio Salgado. Contou com o apoio
dos setores conservadores da sociedade, cujos objetivos eram: combate ao
socialismo e defesa da Tradição e da Família.
» Aliança Nacional Libertadora, que
agregava os elementos de esquerda, com orientação marxista, liderada por Luís
Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista e, como frente antifascista, contava
com o apoio dos liberais.
A
Intentona Comunista
0 programa da Aliança Nacional
Libertadora (ANL) era: a luta por melhores salários, pela reforma agrária, anti-imperialismo e democracia política.
Luís Carlos Prestes foi eleito
presidente de honra da ANL e os comícios arrastavam milhares de pessoas às
ruas. Isso fez com que Prestes, o Partido Comunista e a Terceira Internacional
(reunião dos partidos comunistas de todo o mundo) acreditassem na possibilidade
de derrubar Getúlio por meio de uma revolução.
Em 7 de julho de 1935, Prestes - ainda
no exterior- divulgou um manifesto defendendo a luta armada. Era o motivo que
Vargas desejava para colocar a ANL na ilegalidade. Esse fato, que foi usado
como pretexto para fazer a revolução conhecida como Revolução Vermelha, seria um
golpe militar com o apoio da população.
A revolução estava planejada para
fevereiro ou março de 1936, mas a tomada do quartel-general da Polícia Militar
em Natal, Rio Grande do Norte, em 23 de novembro de 1935, precipitou-a. Porém,
o governo revolucionário durou apenas quatro dias. Houve a tentativa de estender
o movimento ao Recife, também fracassada.
Luís Carlos Prestes começou a organizar
o levante do Rio de Janeiro, acreditando contar com o apoio da Marinha para
depor Getúlio.
0 movimento nos quartéis do Rio de
Janeiro não conseguiu ganhar as ruas, sendo reprimido sem muita dificuldade
pelo governo. Na tarde de 27 de novembro, todos os revolucionários se entregaram.
Derrotada a rebelião, o governo de
Vargas deu início a uma feroz repressão política. Prestes e seus assessores
estrangeiros foram presos e torturados. Prestes foi condenado a 16 anos de
prisão.
Usando a insurreição comunista como
justificativa,Getúlio suspendeu a Constituição de 1934, a mais liberal
que o Brasil já tivera. A propaganda de Vargas criou vários casos falsos de
"ameaças comunistas", de modo a convencer a população de que um
governo forte era indispensável. Em 1937, às vésperas das eleições
presidenciais, sob o pretexto de proteger o Brasil das ameaças totalitárias,
Vargas deu um golpe de Estado, tornando-se ditador.
ESTADO
NOVO:
DITADURA
E TRABALHISMO
Com o golpe de 1937, que instalou o Estado Novo,consagrou-se a proposta ditatorial e eliminaram-se politicamente
os defensores do liberalismo, que foram submetidos à Lei de Segurança Nacional.
Foi outorgada a Constituição de 1937, que legalizava a ditadura e a
centralização do poder nas mãos de Vargas.
As bases da estabilidade do Estado Novo foram as seguintes:
» a
conjuntura internacional, marcada pela Guerra Mundial e pela ascensão do
fascismo, favorecia a expansão industrial, principalmente a indústria de base,
e a retomada do crescimento das exportações nacionais, o que não impediu o Brasil
de continuar exportando produtos primários, essa situação levou a maioria da
classe dominante a apoiar a ditadura;
» o
consentimento de
setores da burguesia industrial e agroexportadora e de boa parte
das oligarquias latifundiárias, que
se beneficiavam com a política governamental;
» o apoio da
classe média urbana que, por ser conservadora, ficava tranquila ante a repressão aos comunistas e era beneficiada com a
ampliação dos empregos;
» o apoio do
alto comando do exército, que participava das decisões governamentais nos
conselhos técnicos;
»
concentração de renda e fundiária;
» a desorganização
das camadas populares em decorrência da repressão policial e do controle
estatal dos sindicatos de trabalhadores. Ao mesmo tempo, as leis trabalhistas
eram implantadas. Essas leis "ganharam" os trabalhadores urbanos;
» o controle
da propaganda nacional por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
O governo Vargas tinha motivos para
intervir nos assuntos ligados ao trabalho: conter o avanço do movimento dos
trabalhadores e, paralelamente, criar mercado para alguns setores da indústria
nacional. Por isso, passou a cuidar da questão social. Criou uma legislação
trabalhista e previdenciária que, embora tenha provocado reação dos
empresários, não prejudicou os seus interesses.
Uma nova Constituição foi outorgada em
1937. Era extremamente centralizadora e prorrogava o mandato presidencial até
ser feito um plebiscito que, na realidade, nunca se realizou.
No Estado Novo houve a extinção dos
partidos políticos, a censura da imprensa, a dissolução do Congresso e a
nomeação de interventores estaduais. No plano econômico, esse período foi
marcado pela criação da Companhia Siderúrgica Nacional e pelo início das
pesquisas de petróleo, em Lobato, na Bahia.
A
REDEMOCRATIZAÇÃO
A partir de 1942, os rumos da Segunda
Guerra Mundial começaram a mudar, abalando um dos alicerces do Estado Novo e
favorecendo a luta interna pela democratização. A entrada do Brasil na Guerra
criou uma situação contraditória; o Brasil lutava no exterior contra o fascismo,
enquanto se mantinha, internamente, num regime ditatorial inspirado por esse mesmo
fascismo.
As relações do governo com as Forças
Armadas começaram a se deteriorar. As pressões externas também contribuíram
para o fim da ditadura. 0 governo dos Estados Unidos não via com bons olhos as tendências
nacionalistas de Vargas, que obstavam parcialmente a
entrada de capitais norte-americanos no Brasil.
Diante das pressões internas e externas,
cada vez maiores, o governo de Vargas prometeu eleições gerais, diminuiu a
censura da imprensa e permitiu a volta dos partidos políticos.
Os principais partidos que surgiram na
época foram:
» PSD (Partido Social Democrático),
criado por Vargas, tinha sua base eleitoral na força dos interventores estaduais,
nos industriais, nos banqueiros e na aristocracia rural.
» UDN (União Democrática Nacional), que
congregava os opositores do regime getulista. Era também
anticomunista e tinha como base eleitoral setores da classe média, empresários
e certas camadas dos militares. Júlio Mesquita Filho, Assis Chateaubriand, Armando de Salles Oliveira
e o Brigadeiro Eduardo Gomes eram os nomes mais representativos desse partido.
» PTB (Partido Trabalhista Brasileiro),
era liderado pela burocracia sindical, criada pelo regime do Estado Novo.
Idealizado por Getúlio, tinha a finalidade de servir de anteparo entre os trabalhadores e o Partido Comunista.
Em 1945, Getúlio
decretou o Ato Adicional, marcando o prazo das eleições gerais. Em março, pressionado
por grupos de militares até então comprometidos com a ditadura, lançou como
candidato à sua sucessão o ministro da Guerra, General Eurico
Gaspar Dutra. Em abril, Vargas concedeu anistia a todos os presos e exilados
políticos. No mês seguinte, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) voltou à
legalidade.
Vargas prometia eleições, porém, não se
acreditava que elas fossem realizadas. As Forças Armadas, lideradas pelos
generais Gois Monteiro e Eurico Gaspar Dutra,
em 1945, depuseram o ditador, assumindo o governo José Linhares, presidente do
Supremo Tribunal Federal.
Para as primeiras eleições, após a época
ditatorial, os partidos apresentaram os seguintes candidatos: General Eurico Gaspar Dutra, apoiado pela coligação PSD-PTB;
Brigadeiro Eduardo Gomes, lançado pela UDN; Yedo
Fiúza, candidato do PCB. Foi eleito o General Eurico
Gaspar Dutra.
Apesar da redemocratização, mantinha-se ainda a clientela dependente dos
favores (verbas, empregos, nomeações) dos "caciques" políticos
estaduais e do governo federal. Esses favores eram retribuídos com a votação em
massa nos candidatos governistas. Havia outras razões para o predomínio do PSD.
Além do apoio financeiro dos comerciantes, industriais e proprietários de
terras, o programa do partido era amplo e genérico, o que facilitava a
conciliação dos diferentes grupos oligárquicos e burgueses.
Prejudicada pelas manobras getulistas, a UDN perdeu as eleições. A
principal razão foi o fato de o partido estar dominado, desde a sua fundação,
pelas oligarquias liberais conservadoras. Apoiado basicamente por setores da classe média conservadora e da
classe dominante, a UDN tornou-se o "partido dos ricos", defensor de posições conservadoras, como
a manutenção da economia agrária.
0 PTB era a
terceira força partidária e teve maior penetração popular devido a uma mudança
na composição social da classe trabalhadora, a partir dos anos 30 do século XX. Houve a substituição dos trabalhadores
estrangeiros por migrantes do Norte e Nordeste, mais carentes do ponto de vista
material e menos organizados e conscientes em termos políticos e ideológicos.
Portanto,
tornaram-se mais facilmente impressionáveis com a política social de
Vargas.
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