terça-feira, 26 de novembro de 2013

Guerra Fria e outros conflitos do século XX



GUERRA FRIA
A Guerra Fria caracterizou-se pela tensão política internacional, com disputas por áreas de influência capitalista (Estados Unidos) e socialista (URSS). A União Soviética e os Estados Unidos viveram em um estado de guerra não declarada, sendo os conflitos transferidos para o mundo periférico. Os estadunidenses tiveram sob área de influência os países da Europa ocidental, enquanto as áreas europeias libertadas pelo exército vermelho — o leste europeu — foram colocadas sob tutela soviética.
Em fevereiro de 1947, Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, admitiu a necessidade de enviar auxílio político, financeiro e militar aos países ameaçados pelo comunismo (Doutrina Truman). No mesmo ano, criou-se o Plano Marshall, que destinou ajuda econômica aos países da Europa. Fortalecendo economicamente os Aliados, a Casa Branca pretendia afastar o perigo comunista. Internamente, os Estados Unidos viveram o macarthismo, uma política de perseguição a possíveis comunistas estadunidenses liderada pelo senador Joseph McCarthy.
Em 1949, foi criada uma aliança militar de defesa do Ocidente - a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos. O objetivo era conter as fronteiras socialistas no continente europeu.
Grande parte dos países do leste europeu transformou-se em "satélites" da URSS. Em 1949, para promover e ampliar o comércio entre os Estados socialistas, a URSS criou o Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecon). Em 1955, a URSS e seus aliados europeus criaram o Pacto de Varsóvia, aliança militar capitaneada por Moscou e que incluía Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Albânia e Romênia.
Na Alemanha, encontrava-se o maior foco de tensão entre Estados Unidos e URSS. Berlim ocidental (capitalista) foi beneficiada com a entrada de recursos; Berlim oriental (socialista) mantinha a penúria típica do pós-guerra imediato.
O território alemão sob influência soviética transformou-se em República Democrática Alemã (ou Alemanha Oriental), socialista, com a capital em Berlim oriental; os setores ocupados por Estados Unidos, Inglaterra e França formaram a República Federal Alemã (ou Alemanha Ocidental), capitalista, cuja capital passou a ser a cidade de Bonn.
Em 1961, para conter as fugas, o governo da Alemanha Oriental construiu o muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria, com mais de 150 km de extensão e três metros de altura. Entre outras consequências da Guerra Fria tivemos a corrida armamentista entre as duas superpotências, que resultou em um grande arsenal de armas nucleares, assim como a corrida espacial, que culminou com a chegada do homem à Lua, em 1969 — feito realizado pelos Estados Unidos.
















REVOLUÇÃO CHINESA
Na China, o Partido Nacionalista (kuomitang), de Chiang Kai-chek, aproximou-se dos Estados Unidos, provocando uma guerra civil com os comunistas liderados por Mao Tsé-tung.
Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil e fundaram a República Popular da China. Chiang Kai-chek e seus seguidores fugiram para a ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a República Nacionalista da China, sob proteção dos Estados Unidos.
O governo socialista de Mao Tsé-tung coletivizou as terras, estatizou a economia, eliminou os focos de oposição e controlou a imprensa. O programa econômico denominado "grande salto para a frente" (1958-1961) priorizou a agricultura e a indústria de base, mas apresentou resultados modestos.
Na política externa, os comunistas chineses afastaram-se dos soviéticos após a morte de Stalin, em 1953.
Em 1964, depois de enormes esforços na área bélica e científica, o Partido Comunista Chinês anunciava ao mundo o domínio da construção da bomba atômica. Em 1966, Mao Tsé-tung deu início à revolução cultural, que pretendia eliminar focos de oposição dentro do próprio Partido Comunista Chinês e promover uma renovação na direção do PCC, substituindo a velha burocracia por novos quadros.
Manipulados pela direção do PCC, muitos jovens transformaram-se em guardas vermelhos, membros de milícias que, pela violência, trabalharam para reforçar a ditadura pessoal do líder da Revolução Chinesa.

GUERRA DA COREIA
Depois da Segunda Guerra Mundial formaram-se dois Estados autônomos na Coreia: a República Popular Democrática da Coreia (ou Coreia do Norte), aliada da URSS, e a República da Coreia (ou Coreia do Sul), protegida pelos estadunidenses.
Incentivados pela vitória dos comunistas chineses em 1949, os norte-coreanos declararam guerra à Coreia do Sul.
O Conselho de Segurança da ONU considerou a Coreia do Norte agressora e autorizou a formação de uma força internacional, liderada pelos estadunidenses. Iniciava-se a trágica Guerra da Coreia.
Os norte-coreanos contaram com a participação do governo chinês. Em 1953, depois de três anos de combates, foi assinada a Paz de Panmunjom, que confirmou o paralelo 38° N como limite entre as Coreias e uma zona desmilitarizada ao longo da fronteira.
Os Estados Unidos iniciaram, então, a construção do muro da Coreia, que ainda hoje divide os dois países.
















DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E DA ÁSIA
Entre os fatores que propiciaram a descolonização afro-asiática, está o declínio do poderio europeu, o desenvolvimento econômico de grupos empresariais nativos, a participação nas duas guerras, os movimentos de libertação e o apoio dos Estados Unidos e da União Soviética, com o intuito de atrair novos países para suas áreas de influência ideológica, as revoltas geradas pela diferença entre as elevadas condições de vida dos colonizadores e a miséria dos colonizados, e a Conferência de Bandung (1955), que reuniu representantes de países independentes da Ásia e da África para defender a autodeterminação dos povos, condenar a ação imperialista em todo o mundo e ajudar no processo de independência das colônias.

CASOS AFRICANOS
No continente africano, a guerra de libertação das mais sangrentas foi a da Argélia. A independência foi organizada pela Frente de Libertação Nacional (FLN), grupo armado guerrilheiro que afirmava defender os interesses do povo argelino contra os colonos franceses. O conflito com o exército francês se estendeu de 1954 a 1962 e resultou na morte de um milhão de pessoas.
Nas colônias portuguesas, os movimentos separatistas começaram nos anos 1950; no, entanto, as independências foram alcançadas na década de 1970, após a Revolução dos Cravos em Portugal (1974), que pôs fim num governo fascista que regia o país desde 1920 (o salazarismo).

CASOS ASIÁTICOS

INDOCHINA E GUERRA DO VIETNÃ
Área de colonização francesa, a Indochina (Vietnã, Laos e Camboja) foi ocupada pelos japoneses no início de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1941, os comunistas ligados a Ho Chi Minh organizaram o Vietminh, grupo armado e preparado para lutar contra as ocupações francesa e japonesa. Depois de conseguir expulsar os japoneses, o Vietminh, apoiado pelo Partido Comunista e por outros grupos nacionalistas, ocupou a cidade de Hanói e proclamou a República Democrática do Vietnã, no norte da península. A pretensão francesa de recolonizar a região a partir do sul provocou a reação de todos os vietnamitas, dando início à Guerra da Indochina, em 1946.
O conflito entre vietnamitas (apoiados pela China) e franceses (apoiados pelos Estados Unidos) só terminou em 1954, com a França derrotada. Em julho do mesmo ano foi realizada a Conferência de Genebra, que decidiu pelo desmembramento do domínio colonial francês na Indochina e o reconhecimento da independência do Vietnã, do Laos e do Camboja. Também ficou determinada uma divisão temporária do Vietnã: ao norte, ficaria a República Democrática do Vietnã, socialista e com capital em Hanói; ao sul, a República do Vietnã, capitalista e com capital na cidade de Saigon.
A partir da divisão, o Vietnã torna-se palco da Guerra Fria, desencadeando a Guerra do Vietnã, que durou de 1961 a 1975.
Em 1960, foi fundada a Frente de Libertação Nacional e, no ano seguinte, o Exército de Libertação Nacional (Vietcongue). Os Estados Unidos decidiram intervir diretamente no país, apoiando o governo do Vietnã do Sul contra as forças do Vietnã do Norte e contra os guerrilheiros vietcongues.
Em 1973, foi assinado o Acordo de Paris. Que determinou a retirada das tropas estadunidenses do Vietnã.
Em 1975, os líderes do governo do Vietnã do Sul renderam-se; no ano seguinte, o Vietnã foi reunificado, com o nome de República Socialista do Vietnã.






ÍNDIA
Na década de 1920, Mahatma Gandhi comandou a resistência ao domínio britânico, assentado nos princípios da não violência e da desobediência civil. Com o apoio de Nehru, Gandhi desencadeou uma campanha de divulgação e convenceu a população a não pagar impostos e a não consumir produtos ingleses.
A Inglaterra tentou enfraquecer o movimento, fomentando divergências entre hindus e muçulmanos. Em 15 de julho de 1947, o Parlamento inglês votou a Lei de Independência, que dividiu a índia em um grande território hindu — a índia — e dois territórios muçulmanos — o Paquistão ocidental e o Paquistão oriental.
As crises entre os dois territórios paquistaneses levaram à independência do Paquistão oriental, em 1971, após uma guerra civil que terminou com a proclamação da República de Bangladesh. O Paquistão ocidental, por sua vez, passou a chamar-se apenas Paquistão.
Ainda hoje, uma vasta região localizada a noroeste da índia — a Caxemira, com uma população majoritariamente muçulmana — é reivindicada pelo Paquistão.

AMÉRICA LATINA

O nascimento do operariado, o fortalecimento da classe média urbana e a emergência de uma influente burguesia industrial marcaram a vida social dos países latino-americanos nas décadas de 1930 e 1940.
Os reflexos políticos dessa nova ordem social foram a eclosão de movimentos populares e o surgimento de partidos de esquerda (socialistas e comunistas) em diversos países, destacando-se Chile, Argentina, Brasil e Bolívia. Sob influência de militantes anarquistas, nasceram os sindicatos, que logo passaram para o controle dos partidos de esquerda.
O operariado urbano, que reivindicava direitos trabalhistas, e o campesinato, que lutava pelo acesso a terra, protagonizaram os principais movimentos sociais da primeira metade do século XX.
As pressões dos grupos populares colocaram em risco o poder das elites locais e forçou o aparecimento de um fenômeno político chamado populismo.
O discurso nacionalista e moralizador dos Estados populistas seduziam os trabalhadores, as camadas médias urbanas e as burguesias nacionais, ansiosas por se integrarem a um projeto de modernização que passaria, necessariamente, por uma rápida industrialização.
Os investimentos na indústria de base, a política de incentivos (por meio da concessão de créditos e taxas de juros baixas), a oferta de subsídios às matérias-primas produzidas pelas grandes estatais e a manutenção da ordem social (por meio do controle dos sindicatos e da vida partidária) fizeram do Estado populista o grande aliado das elites latino-americanas no processo de modernização capitalista vivenciado no período.
Com os líderes carismáticos, o populismo integrou sob sua ideologia reformista os diversos segmentos da sociedade.
Durante a vigência do Estado populista, a vida urbana suplantou em vantagens econômicas e em possibilidades de sobrevivência a vida rural. A burguesia industrial se impôs como segmento dominante, as camadas médias foram integradas ao modo de vida capitalista, e os trabalhadores urbanos conquistaram direitos ainda não conseguidos pelos camponeses.
Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingo Perón na Argentina e Lázaro Cardenas no México são os melhores exemplos do populismo na América Latina.






MÉXICO
Em 1910, houve um levante revolucionário que envolveu camponeses, camadas médias urbanas e a burguesia industrial contra a ditadura de Porfírio Diaz, instaurada por um golpe militar em 1876. Foi o início da Revolução Mexicana.
A presença de lideranças camponesas — como Pancho Villa e Emiliano Zapata — deu à revolução um caráter social camponês e alarmou as classes urbanas conservadoras.
Com o apoio dos grupos revolucionários de Zapata e Villa, o liberal constitucionalista Venustiano Carranza chegou ao poder; no entanto, a aliança entre as forças logo foi rompida. Os dois líderes camponeses uniram-se contra o governo de Carranza.
Em 1917, Carranza promulgou uma Constituição de conteúdo nacionalista e trabalhista, que fortaleceu o seu governo diante de segmentos urbanos, incluindo o operariado e a burguesia, que passaram a apoiá-lo na luta contra as tropas camponesas de Zapata e Villa.
Entre 1934 e 1940, Lázaro Cardenas ocupou a Presidência da República do México, tornando-se um dos expoentes do populismo latino-americano. Durante seu governo, os projetos revolucionários de 1910 foram revigorados e dinamizados. Cardenas nacionalizou empresas de petróleo estadunidenses e ferrovias inglesas, estruturou em moldes populistas os sindicatos de trabalhadores e promoveu uma gigantesca expropriação de latifúndios de proprietários mexicanos e estrangeiros para realizar a reforma agrária. Mais de 15 milhões de hectares de terras foram distribuídos aos camponeses no sistema de ejidos, propriedades de caráter coletivo, cuja utilização só era permitida enquanto os camponeses estivessem integrados como membros de suas comunidades.
Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o latifúndio voltou a predominar no mundo rural mexicano.

CUBA
Depois da independência (1898), Cuba foi colocada sob influência dos Estados Unidos, através da Emenda Platt. Em 1934, Fulgêncio Batista assumiu o poder e passou a governar segundo interesses do imperialismo estadunidense.
Em 1952, por meio de um golpe de Estado, Fulgêncio Batista instalou no país uma ditadura.
Em 1953, um grupo de rebeldes chefiados por Fidel Castro Ruiz tentou tomar o poder por meio de um golpe contra Batista. A tentativa resultou em fracasso, e Fidel Castro foi preso.
Libertado em 1955, Fidel exilou-se no México, onde se uniu a outros exilados cubanos e organizou o retorno à ilha. No grupo de rebeldes, constituído por menos de 90 homens, destacava-se o médico argentino Ernesto Guevara de la Serna (conhecido por Che).
No fim de novembro de 1956, o grupo partiu do México com destino a Cuba, onde iniciou a revolução para a tomada do poder.
Depois de dois anos de conflito, Fulgêncio Batista fugiu para a República Dominicana; no dia seguinte, os revolucionários entraram em Havana.
Fidel Castro assumiu o controle do Estado e do Exército revolucionário, nacionalizou empresas estrangeiras e promoveu a reforma agrária, depois de expropriar terras da oligarquia cubana e de empresas estadunidenses.
Em janeiro de 1961, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba; em abril, exilados cubanos treinados pela CIA tentaram invadir Cuba e derrubar Fidel. A fracassada tentativa de invasão na baía dos Porcos acelerou o rompimento definitivo do governo cubano com o mundo capitalista. Em dezembro de 1961, Fidel anunciou a adesão de Cuba ao socialismo, aproximando-se da União Soviética. Em 1962, a tentativa de instalação de mísseis soviéticos em Cuba gerou um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, na chamada Crise dos Mísseis. A questão foi resolvida com o compromisso soviético de não instalar armas em solo cubano, enquanto do lado dos Estados Unidos o governo assumiu o compromisso de não mais tentar intervir militarmente em Cuba.



CHILE
Nas eleições presidenciais chilenas de 1970, a vitória coube a Salvador Allende, candidato da Unidade Popular, uma frente política constituída por comunistas, socialistas e liberais. Allende realizou a reforma agrária e nacionalizou as minas, o comércio exterior e os bancos.
Para defender seus interesses, os Estados Unidos organizaram um boicote internacional ao cobre chileno, o que fez a economia do país degringolar. Além disso, uma violenta campanha de desestabilização do governo — liderada por agentes estadunidenses com recursos dos grandes consórcios econômicos que atuavam no país e defendida pela burguesia nacional — procurou colocar a sociedade chilena contra o governo da Unidade Popular. A classe média posicionou-se contra Allende.
Em 11 de setembro de 1973, um golpe militar chefiado pelo general Augusto Pinochet derrubou Allende, que foi morto no Palácio de La Moneda. Elementos da oposição liberal ou socialista foram perseguidos, presos, exilados ou assassinados pelo aparelho de repressão estruturado após o golpe.
O governo Pinochet, que se estenderia até 1990, desnacionalizou bancos e empresas e abriu o país ao capital estrangeiro. Como nas demais ditaduras do ciclo militar, o desenvolvimentismo trouxe problemas econômicos e financeiros resultantes do endividamento, cujos reflexos sociais causaram problemas que ainda estão por ser resolvidos.

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